sábado, 24 de abril de 2010

ANTISSEMITISMO NO BRASIL....



Pela primeira vez em 20 anos, o Brasil aparece na lista, feita tradicionalmente pela Universidade de Tel Aviv, de países nos quais foram registrados eventos antissemitas significativos.

De acordo com Instituto Stephen Roth de Estudos Contemporâneos (http://www.tau.ac.il/Anti-Semitism/), houve 15 casos de manifestações antissemitas no país em 2009. No ano anterior, o número havia sido zero.



Segundo o estudo, divulgado na semana passada, a maior quantidade de eventos aconteceu durante ou logo depois do conflito na Faixa de Gaza – que começou em 27 de dezembro de 2008 e terminou em 18 de janeiro de 2009. Com o tempo, as manifestações foram diminuindo, principalmente com a visita, no final do ano, do presidente iraniano Mahmud Ahmadinejad, que, segundo o relatório, “provocou alguma oposição dos políticos brasileiros”.



O estudo do Instituto Stephen Roth cita o que o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) disse sobre a visita: "É uma grande erro de receber a honra com ditadores como o presidente do Irã. Não há pragmatismo que justifique a recepção de um homem que nega o Holocausto e quer destruir o Estado de Israel”. E também lembra que o deputado Marcelo Itagiba (PSDB) levou ao Congresso um cartaz dizendo “Holocausto nunca mais”.



Apesar da diminuição dos casos no final do ano, o relatório conta que a extrema-direita permaneceu ativa. Em 18 de maio, a polícia confiscou mais de 300 itens de parafernália nazista numa operação em cinco cidades do Rio Grande do Sul para deter integrantes de grupos neo-nazistas. O material incluía fotos, DVDs, livros, facas, roupas com suásticas e três bombas artesanais que, segundo a polícia, iriam ser usadas em ataques a duas sinagogas de Porto Alegre e a grupos de homossexuais.



Em 1997, o Brasil entrava no relatório meio que de passagem, só para dar conta de que o país conta com alguns elementos mais radical no Sul, como o negador do Holocausto Sigfried Elwanger. Mas o verbete sobre o Brasil dizia que o país “tem sido tradicionalmente uma terra de tolerância, com quase nenhuma história de antissemitismo”. Mas, uma década depois, algo mudou. Os verbetes sobre o Brasil nos últimos anos destacam a aparição de mais e mais grupos neo-nazistas, carecas, antissemitas e racistas.



No estudo de 2008 sobre o Brasil, o relatório afirma que a internet “continua sendo o meio mais popular de disseminação e difamação contra Israel e o povo judeu no Brasil”. E que, ocasionalmente, “intelectuais de esquerda e figuras públicas, que adotam pontos-de-vista radicais antissionistas, usam alegações antissemitas”. Mas também relata casos de violência concretos, como ataques a centros comunitários judeus, além de manifestações públicas nas quais a bandeira de Israel foi queimada e pichações chamando Israel de “Estado terrorista”.



Na minha infância, eu costumava dizer que vivia num dos únicos países do mundo onde ser judeu era “bacana”. Pelo menos era o que eu sentia. Quando revelava a alguém que era judia, em geral recebia uma resposta do tipo “Ah, que legal!”. Na minha juventude, quando descobri que a realidade na Argentina era diametralmente oposta, fiquei ainda mais orgulhosa do Brasil. Mas algo parece ter mudado.



Claro que o Brasil ainda está longe de chegar aos 428 casos de antissemitismo registrados na Argentina no ano passado. Mas parece que a tolerância nacional de um país que se orgulha de ser pacífico, está terminando.



Por: Daniela Kresch
Jornalista direto de Tel-Aviv


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