segunda-feira, 24 de maio de 2010

O DESABAFO DE UM PROFESSOR.....

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Como professor, vejo que, às vezes, sou alguém que trabalhou para construir os outros e não vê resultado muito claro daquilo que faz. Tenho a impressão que ensino no vazio (e sei que não estou só nesse sentimento) porque, depois de formados, meus ex-alunos parecem que se acostumam rapidamente com aquele mundo de iniqüidades que combatíamos juntos.

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Digo isso, até em tom de desabafo, porque vejo que cada dia mais meus alunos se gabam de desonestidades. Os que passam os outros para trás são heróis e os que protestam são otários, idiotas ou excluídos, é uma total inversão dos valores.

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A pergunta é: É possível, pela lógica, que todo mundo ganhe? Para alguém ganhar é óbvio que alguém tem de perder.

A lógica, então, é:

. Guardar o troco a mais recebido no caixa do supermercado

. Enrolar a aula fingindo que a matéria está sendo dada

. Fingir que a apostila está aberta na matéria dada, mas usá-la como apoio enquanto se joga forca, batalha naval ou jogo da velha

. Dizer que leu o livro, quando ficou só no resumo ou na conversa com quem leu

. Cortar a fila do cinema ou da entrada do show

. Marcar só o gabarito na prova em branco, copiado do vizinho, alegando que fez as contas de cabeça

. Comprar na feira uma dúzia de quinze laranjas

. Brigar para baixar o preço mínimo das refeições nos restaurantes universitários, para sobrar mais dinheiro para a cerveja da tarde

. Bater num carro parado e sair rápido antes que alguém perceba

. Arrancar as páginas ou escrever nos livros das bibliotecas públicas

. Arrancar placas de trânsito e colocá-las de enfeite no quarto

. Fraudar propaganda política mostrando realizações que nunca foram feitas

. Trocar o voto por empregos, pares de sapato ou cestas básicas

É a lógica da perpetuação da burrice… E não adianta pensar que logo bateremos no fundo do poço, porque o poço não tem fundo.

Quando um país perde, todo mundo perde! Parafraseando Schopenhauer: “Não há nada tão desgraçado na vida da gente que ainda não possa ficar pior”.

Se os desonestos brasileiros voassem, nós nunca veríamos o sol.



Felizmente há os descontentes, os lutadores, os sonhadores, os que querem manter o sol aceso, brilhando e no alto. No entanto, de nada adianta o conhecimento sem o caráter. A luz é, e sempre foi, a metáfora da inteligência.

Que nas escolas seja tão importante ensinar Literatura, Matemática ou História quanto decência, senso de coletividade, coleguismo e respeito por si e pelos outros.

Acho que o mundo (e, sobretudo, o Brasil) precisa mais de gente honesta do que de literatos, historiadores ou matemáticos. Ou o Brasil encontra e defende esses valores e abomina Zecas, Gérsons, Dirceus, Dudas e todos os marketeiros que chamam desonestidades flagrantes de espertezas técnicas, ou o Brasil passa de país do futuro para país do só furo.

De um Presidente da República espera-se mais do que choro e condecoração a garis honestos, espera-se honestidade em forma de trabalho e transparência.

De professores, espera-se mais que discurso de bons modos, espera-se que mereçam o salário que ganham (pouco ou muito) agindo como quem é honesto.

Quem plantar joio, jamais colherá trigo. A honestidade não precisa de propaganda, nem de homenagens, precisa de exemplos.

De: Professor Naylor Marques

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