A Polícia Federal instaurou na noite de ontem um inquérito
para investigar se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve participação
no escândalo do mensalão. A investigação ficará a cargo da delegacia de crimes
financeiros.
Na semana passada, a Procuradoria da Republica do Distrito Federal havia
determinado a abertura da investigação baseada no depoimento do operador do
mensalão, o publicitário Marcos Valério.
A PF fez uma análise da documentação enviada antes de abrir o inquérito,
cuja portaria de instauração foi assinada ontem. O prazo inicial da
investigação é de 30 dias. Se for necessário mais tempo, a Justiça terá que
autorizar a prorrogação.
É a primeira vez que será aberto inquérito criminal para investigar se
Lula atuou no mensalão.
No processo principal do escândalo, julgado no ano passado pelo Supremo,
Lula não foi investigado. Ele prestou depoimento, por ofício, apenas na
condição de testemunha chamada por diferentes réus do processo.
O depoimento de Valério foi dado à Procuradoria-Geral da República em
setembro do ano passado, no meio do julgamento do mensalão.
Entre outras acusações, o publicitário afirmou que Lula, o ex-ministro
Antonio Palocci e Miguel Horta, então presidente da Portugal Telecom,
negociaram repasse de US$ 7 milhões para o PT.
Valério afirmou que o ex-presidente e Palocci reuniram-se com Horta no
Palácio do Planalto e combinaram que uma fornecedora da Portugal Telecom em
Macau, na China, transferiria o valor combinado para o PT.
O dinheiro seria usado em campanhas petistas e para comprar deputados,
segundo Valério.
No pedido enviado à PF, a Procuradoria solicitou "diligências"
para averiguar até a exata data do encontro citado por Valério. Não há ainda
previsão de quando depoimentos serão tomados, segundo a Folha apurou.
O depoimento foi enviado para a primeira instância já que nenhum dos
citados têm foro privilegiado.
A Procuradoria da Republica do DF analisou o depoimento de Valério e, a
partir daí, abriu seis procedimentos criminais. Um desses procedimentos foi,
agora, transformado em inquérito. Os outros são preliminares e podem ou não ser
transformados em investigações policiais.
Condenado a 40 anos de prisão no julgamento do mensalão, Valério fez
outras acusações no depoimento, como a de que Lula se beneficiou com recursos
do esquema. O petista sempre negou.
Na sexta-feira, o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, afirmou
que "não há nova informação em relação às publicadas há cinco meses",
quando o depoimento de Valério foi remetido à primeira instância. Lula não quis
se pronunciar em viagem à Inglaterra esta semana.
Advogado do ex-ministro Palocci, José Roberto Batochio chamou o
depoimento de Marcos Valério de "invencionice" e negou a existência
do encontro no Planalto.
Fonte: Folha de São Paulo
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