Fazia tempo que não se via, com tamanho radicalismo, a divergência das opiniões tidas como certas e erradas sobre quem deve governar o nosso pais.
Divididos
em dois polos opostos, de um lado estão os ferrenhos defensores do
fortalecimento da economia e da prioridade da livre concorrência, representados
em sua maioria pelos seguidores do PSDB, e do outro, os que ferozmente pregam
por uma sociedade mais igualitária, com
maior distribuição da renda, ainda que as custas dos mais abonados,
abandeirados pelo PT.
Contudo,
será que os dois partidos protagonistas da atual disputa pelas rédeas do poder,
são tão heterógenos quanto se prega por aí? Seria realmente impossível a
mistura da “turma dos coxinhas” com a
“galera comunista”?
Para
que não se confunda a intenção de respostas
com o apego ou defesa de qualquer uma das “agremiações”, comecemos o
raciocínio com a abordagem histórica e ideológica das duas partes, para só ao
final apontar a conclusão clara...ou não!
A
grosso modo, se tem a seguinte linha de evolução do nosso sistema político:
Absolutismo, Liberalismo Econômico, Socialismo e o atual, carinhosamente
batizado de Estado Democrático de Direito. Por determinado período, de forma
sequencial, cada um desses modelos foram adotados.
Começa
na idade média com o Absolutismo, onde se tinha a totalidade do poder na mão do
Estado, entidade soberana que podia tudo e um pouco mais. Com a revolta da
classe burguesa, que trabalhava bastante e ficava com as migalhas, se
estabeleceu o Liberalismo, onde vigorava os ideais capitalistas na velocidade
cinco do créu, aplicando o cada um por
si e Deus por todos, chegando-se a máxima da acumulação de riqueza e
desigualdade das classes.
O que
não foi bem aceito para aqueles que não tinham acesso ao recheio do bolo, e cansados
de ficarem apenas com as raspas, impuseram o Socialismo, onde o Estado voltada
a intervir de forma direta em todos os ramos da sociedade, impondo a divisão igualitária de riquezas,
com a implantação do comunismo, devendo se viver no mesmo padrão de igualdade.
Qual
deles deu certo?
Para
a maioria, nenhum, senão não estaríamos sujeitos ao Estado Democrático de
Direito. Neste, temos uma mistura dos outros antecedentes, na justificativa de
que se aplicaria o melhor de cada.
O
resultado é um Estado como ente maior e soberano, mas que entretanto, respeita
as vontades do indivíduo, e prioriza o bem estar da sociedade, só intervindo
quando a vontade individual ultrapassa os interesses da coletividade.
Seria
como um pai, que deixa seus filhos viverem da forma que melhor lhes convir,
desde que respeitem os princípios da família, sob pena de ficarem de castigo
ou entrar na correia, pois apesar da
liberdade, quem manda é o papai.
Agora
sim, traçadas figurativamente as doutrinas que dominaram as diretrizes
político-econômicas-sociais, voltemos aos dois partidos “brigões”.
Dentro
dos meus ouvidos ecoam o soneto de que a principal diferença entre PT e
PSDB é por aquele ser o representante da esquerda, e ainda que estejamos
no atual Estado Democrático, tem em suas raízes ideológicas os ideais
socialistas, enquanto que o outro, notório partido de direita, carrega na
bagagem a luta pelo liberalismo econômico defendido pela burguesia de outrora.
Seria
simples assim, sendo o PT a esquerda socialista e o PSDB, a direita
conservadora liberal, opostos como lá e cá, preto e o branco, longe e perto,
norte e o sul.
Porém,
não seria essa a absoluta verdade, nem para um e nem para o outro.
Vale
lembrar que o Partido Social Democrata Brasileiro, tem como fundador e maior
expoente, um sociólogo de
formação, que por longo período da sua juventude, dedicou seus estudos
as obras e teorias de Karl Marx.
Ou
seja, o ex presidente Fernando Henrique Cardoso já foi simpatizante do filósofo tido como pai do socialismo e
pregador do comunismo “inevitável”, mártir seguido ainda hoje por uma boa parte
dos membros do PT, principalmente pela ala mais radical.
Talvez
por isso, na época que se criou o PSDB, se tinha no grupo, motivado pela
discordância das medidas do presidente Sarney, vários militantes da esquerda
anti-militarista, e por consenso se optou pela ideologia social-democrática.
Ideologia
que tem em seu bojo a busca pela redução da pobreza e desigualdades,
adotando-se o capitalismo como regente da economia, gerando recursos para que o
Estado aplique o socialismo, mediante a tributação.
O
pensamento é de que deve ser concedida a iniciativa privada estímulos para
produzir, e por conta própria gerar riquezas, que seriam em sua parte passadas ao Estado,
através dos tributos, e que por sua vez, direcionaria tal montante aos menos
favorecidos, por programas e medidas sociais.
Se
deixa produzir com o mínimo de interferência, mas tem que dar parte da marmita
para que o Estado redistribua como os demais. Este é a base ideológica do PSDB,
que então, jogaria por terra a alcunha de partido de direita, o reposicionando
quem sabe como uma “esquerda flexível”, ou “esquerda capitalista”, ou
“centro-esquerda” ou “centro-direita”, ou
do que quiserem, menos de direita radical, onde o Estado apenas assiste
as vontades econômicas individuais, sem maior participação.
Já o
Partido dos Trabalhadores, conforme o nome, estaria voltado para os interesses
do proletariado, tendo como fundadores operários sindicalistas e intelectuais
marxistas, assumindo a postura socialista pura.
O
principal mantra seria dividir o todo para todos, ou pelo menos foi isso que
pregou em seus primórdios, seguindo caminho curvilíneo, diante a política
econômica adotada já no início do governo de Luís Inácio.
Basta
citar o nome do Sr. Hernrique de Campos Meirelles, excelente expert em
finanças, escolhido como Presidente do Banco Central do Brasil por Lula, que
havia sido eleito na véspera como o Deputado Federal mais votado no estado de
Goiás, pelo PSDB diga-se de passagem.
Capitalista
nato, também foi ex-presidente do Bank of Boston, CEO do FleetBoston Financial,
Presidente da Associação Brasileira das Empresas de Leasing; Membro da Câmara
Americana do Comércio, Diretor executivo da FEBRABAN (Federação Brasileira de
Bancos), dentre outros postos que certamente arrepiaria a felpuda e vasta barba
de Karl Marx.
Henrique
Meireles teve papel direto na boa condução da economia durante o governo petista
e é o atual recordista que por mais
tempo permaneceu na presidência da instituição, de 2003 a 2011, dada a sua
brilhante desenvoltura nas funções assumidas.
E
para aqueles que mencionei no início do texto, que persistem em dizer que PT e PSDB não se misturam, lamento informar
que além das semelhanças apontadas, chegaram ao ponto de fazerem parte da mesma
chapa de coligação no segundo turno da
campanhas de 1989, com o apoio expresso do PSDB a candidatura de Lula, e mais
tarde novamente juntos, pelo impeachment do ex presidente Fernando Collor de
Melo.
Os
“tucanos” e os “estrelas vermelha” mantiveram o namoro até meados do ano de
1994, quando haviam informalmente acertado a candidatura de Tasso Jereissati,
PSDbista, como vice de Lula para o próximo pleito.
Entretanto,
em razão do sucesso do Plano Real, o partido azul mudou de ideia e decidiu encabeçar a própria candidatura com
FHC, rompendo-se assim a linda história de amor, e iniciando a já conhecida
fase de recalque dos pombinhos enamorados.
No
fim das contas, digamos que as duas legendas são diferentemente iguais. Pregam
ideologias distintas, mas praticam, a mesma política econômica, mudando apenas
o foco de incidência dos recursos apurados.
Priorizando
consertar a economia e colocar o Brasil no cenário desenvolvimentista mundial,
o PSDB optou por medidas estruturais e generalizadas, deixando um buraco no
campo social que carecia de amparo imediato.
Esse
buraco foi inteligentemente ocupado pelo PT, que levou a aqueles que ficaram
“desamparados” o mínimo para o sustento, mediante medidas conjunturais de
assistencialismo.
Portanto,
é inegável, ainda que em doses homeopáticas, a existência do socialismo nas
veias dos sociais- democratas de puro sangue. Da mesma forma que também o é a
existência da cartilha capitalista no bolso do governo petista.
O que
os xiitas partidários ainda não perceberam é que para que qualquer um dos dois
polos se fortaleça, é preciso justamente
reforçar parte do que o outro tem de mais expoente.
Dificilmente
conseguirá o PT se manter no poder caso não amplie a sua política econômica de
forma geral, não se limitando ao
assistencialismo da base da pirâmide,
como também não terá sucesso o PSDB de retornar ao trono enquanto não
direcionar pontualmente boa parte da sua atenção ao indivíduo que ficou a mercê
da pobreza.
Quanta
contradição!
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