Depois de
confirmar que ele é dono de um tríplex reformado e mobiliado pela OAS,
empreiteira punida no escândalo do petrolão, promotores enquadram o
ex-presidente numa das modalidades clássicas do crime de lavagem de dinheiro.
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No bolso dos corruptores: investigadores não têm dúvidas que o apartamento no Guarujá
pertence a Lula e sua mulher, Marisa Letícia(Paulo
Whitaker/Reuters)
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Um truque
recorrente na carreira política do ex-presidente Lula é reescrever a história
de modo a exaltar feitos pessoais e varrer pecados para debaixo do tapete. Mas
os fatos são teimosos. Quando se pensa que estão enterrados para sempre, eles
voltam a andar sobre a terra como zumbis de filmes de terror. O mensalão, no
plano mestre de Lula, deixaria de existir se fosse negado três vezes todas as
noites antes de o galo cantar. O petrolão, monumental esquema de roubalheira na
Petrobras idealizado, organizado e consumado em seu governo - e, segundo
testemunhas, com reuniões no próprio gabinete presidencial -, entraria para a
história como mais um ardil dos setores conservadores da sociedade para impedir
o avanço dos defensores dos pobres. Nem o mais cego dos militantes do PT ainda
acredita nessas patacoadas que afrontam os fatos. Sim, os fatos, sempre eles. O
tríplex de Lula no Guarujá é outro desses fatos que o ex-presidente esperava
ver se dissipar no meio do redemoinho. Mas o tríplex está lá com seu elevador
privativo e linda vista para o Atlântico, e vai continuar. De nada adiantou a
pregação de Lula, na semana passada, para seu coro de blogueiros chapa-branca
muito bem remunerados com o dinheiro escasso e suado do pobre povo brasileiro:
"Não tem uma viva alma mais honesta do que eu. Pode ter igual, mas eu
duvido". Pode até ser que a alma não veja o que o corpo faz e se
entretenha no engano, mas a opinião pública há muito tempo não se ilude mais
com essas mandingas autolaudatórias de Lula.
Pelo tríplex que
queria manter clandestino, Lula será denunciado pelo Ministério Público por
ocultação de propriedade, uma das modalidades clássicas do crime de lavagem de
dinheiro. A denúncia contra o ex-presidente decorre da investigação de fraudes
em negócios realizados pela Bancoop, cooperativa habitacional de bancários que
deu calote em seus associados enquanto desviava recursos para os cofres do PT.
A Bancoop quebrou em 2006 e deixou quase 3 000 famílias sem seus imóveis, enquanto viam, inermes, petistas estrelados receber seus
apartamentos. Em abril do ano passado, VEJA revelou que, depois de um pedido
feito por Lula ao então presidente da OAS, Léo Pinheiro, seu amigo do peito
condenado a dezesseis anos de prisão no petrolão, a empreiteira assumiu a
construção de vários prédios da cooperativa. O favor garantiu a conclusão das
obras nos apartamentos de João Vaccari Neto, aquele mesmo que, até ser preso
pela Operação Lava-Jato, comandou a própria Bancoop e a tesouraria do PT. A OAS
assumiu também a reforma do tríplex de 297 metros quadrados no Edifício
Solaris, de frente para o mar do Guarujá, pertencente ao ex-presidente Lula e a
sua esposa, Marisa Letícia.
A OAS desempenhou
ainda o papel de "laranja" de Lula, passando-se por dona do tríplex.
A manobra foi cuidadosamente apurada pelos promotores do Ministério Público de
São Paulo, que trabalham a apenas quinze minutos de carro da sede do Instituto
Lula. Durante seis meses, eles se dedicaram a esquadrinhar a relação entre a
OAS e o patrimônio imobiliário dos chefes petistas. Concluíram que o tríplex no
Guarujá é a evidência material mais visível da rentável parceria de Lula com os
empresários corruptores que hoje respondem por seus crimes diante do juiz
Sergio Moro, que preside a Operação Lava-Jato. Os promotores ouviram testemunhas
e obtiveram recibos e contratos que colocam o ex-presidente na posição de ter
de explicar na Justiça as razões pelas quais tentou de todas as maneiras negar
ser o dono do tríplex. Para os promotores, as negaças de Lula configuram o
crime de lavagem de dinheiro.
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