Os que especulam sobre o significado da não reação do ex-governador Aécio Neves ao comentário da candidata oficial, Dilma Rousseff, de estímulo à chapa Dilmasia — um voto híbrido nela para presidente da República e no candidato a governador Antonio Anastasia, do PSDB —, querendo perceber uma sutil admissão de Aécio à “cristianização” do candidato tucano, José Serra, em Minas, não perdem por esperar.
O discurso do ex-governador mineiro hoje, no evento que marcará em Brasília o lançamento da candidatura de Serra à Presidência da República, será uma inequívoca tomada de posição.
Mais que isso, será uma definição de linha de ação política do PSDB, um ataque frontal ao passado do PT e um assumido orgulho do passado do partido tucano.
Sobre a passagem de Dilma por Minas, o ex-governador Aécio Neves lembra que seu avô Tancredo dizia que, em uma campanha eleitoral, há lugares em que é melhor não ir do que ir e ter problemas.
Foi o que aconteceu com a candidata oficial, Dilma Rousseff, ao visitar São João Del Rei. Se fosse lá e não visitasse o túmulo de Tancredo, seria acusada de mais uma vez estar desdenhando o grande líder político mineiro.
Indo, provocou a ira dos próprios mineiros, pois o PT não apenas não apoiou Tancredo no Colégio Eleitoral, em 1985, como expulsou os seus três deputados federais que o fizeram à revelia do partido.
Para exemplificar o repúdio mineiro à atitude de Dilma, basta ler o título do artigo semanal que o ex-senador Murilo Badaró escreve: “A profanação do túmulo de Tancredo”.
Dilma já havia confundido anteriormente Governador Valadares com Juiz de Fora, demonstrando que sua mineiridade não está muito em dia.
Quando, desta vez, caiu na armadilha ao defender a chapa Dilmasia, prestou dois serviços aos adversários políticos: desprezou o PT e o PMDB mineiros, que ainda se digladiam para ver quem dará o candidato a governador, e deu a chancela de que a candidatura de Antonio Anastasia é uma opção tão viável que ela admite “cristianizar” seus candidatos para receber o apoio do ex-governador Aécio Neves, o grande líder político atualmente em Minas.
O ex governador não quis reagir pessoalmente à ida de Dilma ao túmulo de seu avô para não dar um cunho meramente pessoal e familiar ao comentário, mas foi consultado pelo senador Sérgio Guerra sobre a nota que os partidos de oposição divulgaram.
Vai aproveitar o discurso para “tirar da frente os fantasmas do constrangimento”.
Aécio vai dizer claramente que “nós temos que ter orgulho enorme do que fizemos”, e definirá “com clareza e coragem” o que considera uma verdade política: não teria havido o governo do presidente Lula se não tivesse havido o governo Fernando Henrique.
“Isso é real, é claro, e o maior avalista disto é o próprio Lula, que manteve intacta a política econômica do Fernando Henrique”.
Para Aécio, quem diz da importância do governo de Fernando Henrique é Lula, mais do que qualquer outro. O ex-governador mineiro lembrará que, “apesar das pressões do PT no início do governo, o Palocci, com o aval do Lula, manteve intacta a política econômica”.
Aécio defenderá que o debate na campanha deve ser sobre o futuro e o presente, mas pretende ressaltar que é fundamental que se debata também o passado.
“O PT quer circunscrever o seu passado aos oito anos do governo Lula”, ressalta Aécio, negando validade a essa estratégia. “Sorte nossa que o PT não era um partido expressivo naquela época. Se prevalecessem as ideias do PT, teríamos adiado o processo de redemocratização, poderíamos ter de novo um retrocesso institucional na saída do Collor, com o Itamar sem qualquer apoio, não teríamos uma Constituição”.
O tema central da fala de Aécio será “o passado condena o PT”.
Ele diz que, na campanha, o PSDB vai falar das privatizações, da Lei de Responsabilidade Fiscal, do próprio Plano Real, de tudo o que foi feito com “a raivosa oposição deles”.
O próprio Lula já reconheceu que, se fosse eleito em 1989, seria uma tragédia, pois não estava preparado para governar o país. “E será que a Dilma está preparada? A Dilma hoje não é o Lula de 89?”, pergunta Aécio.
Para o ex-governador mineiro, o governo de Fernando Henrique Cardoso “foi um governo respeitável, mesmo quem não tem saudades respeita, independentemente do que o PT fez com egoísmo durante esses 25 anos”.
Ele define o PT como “beneficiário da nossa responsabilidade e da nossa visão de país, porque, ao contrário da gente, o PT sempre colocou o seu projeto partidário acima do projeto do país em todos esses momentos”.
Aécio Neves relembra que, para o PT, valia sempre a lógica do que era melhor para o partido. “Não era bom se misturar conosco no Colégio Eleitoral, dane-se o resultado; não era bom apoiar o Itamar porque o Lula vem aí, dane-se o Brasil”.
O ex-governador mineiro diz que está na hora de “levantar a cabeça e partir para cima”. Ele vai lembrar que foi candidato a candidato a presidente da República ano passado e sempre dizia que a unidade era a grande força, o mais vigoroso instrumento para ganhar a eleição.
Aécio diz que, no momento em que notou que o partido ia em outra direção, fez “o mais importante gesto a favor da unidade” quando anunciou que seu candidato era o Serra: “Eu tenho compromisso com o partido e com o país, quero encerrar esse ciclo petista. Acho que tenho autoridade moral para dizer isso”, finaliza.
Este é o espírito com que o ex-governador mineiro discursará hoje no lançamento da candidatura de José Serra à Presidência da República.
Uma tomada de posição sem dar margem a dúvidas.
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